Subindo a Alameda esta tarde parei a olhar os periquitos
rabijuncos, dos muitos que andam aí pela cidade já há anos, pousados numa
árvore. Uma senhora velhota que também estava a olhar para as aves meteu
conversa comigo. E disse-me que eram os 4 papagaios que tinham fugido do Jardim
Zoológico. Eu disse-lhe que não eram papagaios mas sim periquitos rabijuncos,
(verdes e quase tão grandes como um papagaio), que existem por toda a cidade já
há muito tempo. Mas ela insistiu tanto que eram os papagaios que a neta lhe
tinha dito que tinham fugido do Jardim Zoológico, que eu desisti de a convencer
que eram rabijuncos e que se fugiram do zoológico já fugiram há muitos anos
pois há bandos pela cidade desde 2007 ou 2008. E então ela começou a contar-me
histórias do papagaio da neta. E foi um esforço ouvi-las sem me rir. O papagaio
da neta diz à neta quando ela chega a casa “Esteve cá a tua prima”, diz à avó
“Dá-me comida, tenho fome, a tua neta esqueceu-se de me dar comida”, fugiu de
casa e seguiu o carro da neta voando ao lado a dizer “Abre-me a porta, abre-me
a porta!” e sei lá mais quantas coisas
fantásticas que já não me lembro. Só fiquei sem perceber se a senhora é
completamente maluca e inventa estas histórias (neta incluída) ou se é crédula
e ignorante e solitária e tem uma neta maluca que lhe conta estas histórias e
ela acrescenta uns pontos para as contar a terceiros. Entretanto ainda pensei –
porque não sou especialista em pássaros e não consegui ver bem aqueles porque
estava encadeada pelo sol – que podiam ser papagaios e que a história dos
papagaios que fugiram do zoológico até podia ser verdade. Mas ‘googlei’ sobre o
assunto e tudo o que encontrei foram várias informações sobre os bandos de
rabijuncos que andam há anos por Lisboa. E se não fosse a minha capacidade de me livrar
– sempre que possível simpaticamente mas quando necessário à bruta mesmo – de
secas, tão grande como a facilidade em dar conversa a desconhecidos, acho que
tinha ficado toda a tarde a ouvir as histórias do papagaio maravilha.