A MINHA RUA É UM 'FARWEST' - Peixeirada

Fui acordada por uma gritaria na rua. Uma voz  de homem muito exaltada que outra voz de homem tentava acalmar. Julguei que fosse uma cena costumeira num café aqui perto onde um frequentador, sempre o mesmo, já o conheço, (deve ser um "armador de maca encartado”), quase todos os dias tem um desatino com alguém. Embora tenha achado estranho o horário pois todas as confusões com esse senhor a que assisti foram ao final da tarde (provavelmente quando ele já tem um grau de etilização bem elevado).
Apesar de serem 9H30 da manhã, era madrugada para mim que me deitara às 4H00, mas acabei por desistir de readormecer e levantei-me, espreitando para a rua quando abri a janela do quarto. Tudo calmo no dito café. A peixeirada era, muito apropriadamente, ...na Peixaria!!! Entre o dito homem cujos berros me acordaram e uma das peixeiras cujos gritos - de dentro da Peixaria - também eram bem audíveis com a janela aberta. À porta da Peixaria, o homem que gritava, o que tentava acalmá-lo, a outra peixeira e mais um monte de mirones. Entretanto o "berrador" entrou na peixaria e a "maca" continuou lá dentro com os mirones todos à porta. Recolhi e fui tomar o meu pequeno-almoço. Quando terminei fui espreitar de novo à janela para ver em que parava a "maca". Os mirones continuavam à porta, não havia gritos e havia um carro da PSP estacionado em frente. Como tinha mais o que fazer não fiquei de atalaia e portanto não sei como terminou a "maca", se alguém foi detido, se a PSP apenas acalmou os ânimos?!?!?!?  Soube depois, nas conversas que vou ouvindo (ou provocando)  por aí, que o dito homem era o 3º marido da dita peixeira (que não tem mais de 30 anos) e que já deixou de ser e que ela já arranjou um 4º. Não sei se é ela que tem imenso jeito para escolher maridos, ou se são eles que têm imenso jeito ao escolhê-la para mulher...

COMO?!?!?! - Whirpool

Estive a ler as instruções da minha máquina de lavar roupa (da marca Whirpool) e... imagine-se! Para limpar o filtro mandam fazer isto e aquilo, normal, tipo deixar escoar a água residual, retirar o filtro, etc. e... finalmente "inclinar a máquina suavemente para a frente para escoar a água na totalidade". Como???? Só podem estar a gozar, ou será que pensam que todos os utilizadores de máquinas de lavar Whirpool são Sansões???? Quem é que tem força para inclinar, ainda por cima SUAVEMENTE,  uma máquina de lavar roupa?!?!?!?!? Ainda pensei que era um erro de tradução para português mas diz o mesmo em todas as outras línguas que entendo (espanhol, francês e inglês). Só se fôr um erro de tradução de sei lá que língua para todas estas. A Whirpool é de origem norte-americana mas é uma multinacional  que fabrica e vende em todo o mundo, às tantas a máquina foi fabricada no Japão, na China, em Taiwan, ou outro algures, e as instruções foram (mal) traduzidas a partir de um original na língua do local de fabrico?!? Não sei, só sei é que mandam inclinar suavemente um “mastodonte” com 70 Kg de peso.

COISAS QUE NÃO ENTENDO - Obras à toa

As notícias dos últimos dias sobre a derrocada de um piso num prédio na Arrentela, Seixal, deixam-me a pensar como é possível tanta estupidez e tanta falta de fiscalização (diga-se que, e aliás, só necessária por causa da tanta estupidez).
De acordo com o noticiado a derrocada aconteceu porque o andar inferior teve obras de remodelação nas quais foi demolida uma parede mestra, (obviamente, dados os resultados, sem a substituir por pilares e vigas que fizessem a mesma função). Depois uma festa de aniversário, que juntou uma dezena de pessoas na sala do piso de cima, ...fez o resto. E a sala de cima derrocou para a sala de baixo ferindo as pessoas que com ela caíram. Por sorte não estava ninguém na sala de baixo.
Estou convencida de que existem muitos prédios por todo o país com problemas idênticos. Há pessoas profundamente ignorantes e estúpidas e, pior ainda, convencidas de que são espertas e de que sabem tudo, que compram um apartamento em 2ª mão e tratam de fazer grandes remodelações à toa, sem licenças, sem projectos, sem cálculos, sem recorrer a arquitectos, nem a engenheiros, nem sequer a um mestre-de-obras digno do nome. Elas próprias se armam em arquitectos e engenheiros e mestres de obras, “vamos derrubar esta parede para juntar a sala com o quarto do lado e fazer um salão”. Como as câmaras municipais só fiscalizam as obras que pediram licença e as obras alvo de queixas, prédios com paredes mestras “fatiadas” num andar ou outro devem ser vários por aí. Eu própria conheço um caso em que moradores de outros pisos fizeram queixa duma obra precisamente porque perceberam que estava a ser demolida uma parede mestra. Essa obra foi parada e proibida de continuar naqueles moldes pela câmara que fiscalizou pós-queixa.
Só não há mais notícias sobre acidentes  iguais porque falta o outro ingrediente para o desastre, a festa do vizinho de cima. Mas algum dia cai um prédio inteiro, mesmo sem festa nenhuma, por ter paredes mestras “fatiadas” em vários pisos.

BANALIDADES - Pontos de vista

No prédio onde moro todos os moradores são inquilinos de um único proprietário e só há pouco tempo o senhorio cumpriu a sua obrigação de contratar uma pessoa para cuidar da (estúpida) logística (lisboeta) do contentor do lixo. Até essa altura o contentor de lixo ficava 24 sobre 24 horas na rua, à porta do prédio. Num domingo, dia em que a rua é sempre uma tranquilidade, quase ninguém, quase nenhum carro, eu estava na varanda, “a arejar”, e vi uma sem-abrigo, carregada de tralha, aproximar-se do contentor e começar a enfiar toda a tralha lá dentro. Do meu ponto de vista, (formatado), contentor de lixo é para pôr lixo e pensei “Passou-se! Está a deitar fora todos os seus pertences...”,  mas esta minha dedução foi logo negada pela realidade. Assim que enfiou toda a tralha no contentor, seguiu o seu caminho com o contentor rolando atrás dela. Arranjou uma mala de viagem para transportar a tralha. E ainda um belo armário, à prova de água, para manter os bens a salvo. Achei o ponto de vista dela tão lógico, (e fácil de realizar, o que não falta por essa cidade fora são contentores de lixo permanentemente na rua), que nem percebo como o exemplo não é seguido por todos os sem-abrigo da cidade.

DE PASSAGEM - História de Portugal

7H00 da manhã, logo atrás de mim na fila para o centro de saúde, uma senhora portuguesa natural duma aldeia da Covilhã, com setenta e picos anos e a 4ª classe, (segundo informado pela própria na conversa), para uma rapariga brasileira:

"Conhece o Terreiro do Paço? A estátua que lá está é do Rei D. José. E no Marquês de Pombal está a estátua do Marquês do Pombal que era Primeiro Ministro dele. Eram os dois muito maus e invejosos. E havia uma família, que eram os Távoras, que eram muito queridos do povo. E o Rei e o Marquês do Pombal, cheios de inveja, mandaram-nos matar a todos. Mas eles também tinham coisas boas, nessa altura, no ano de 1755, houve um grande terramoto em Lisboa e ficou tudo arrasado, principalmente a zona que hoje é conhecida por Baixa Pombalina, ali os Restauradores e a Av. da Liberdade, está a ver? Então o Rei disse para o Marquês "Trate-se dos vivos e enterrem-se os mortos". Mas depois a D.Maria, que era infanta, filha do D. José, ficou Rainha e como ela era muito boazinha o Marquês foi exilado para o Pombal."

Adooooorei toda a história não esquecendo o pormenor da Praça ser Marquês de Pombal, mas o próprio do Sebastião José ser Marquês do Pombal e ser exilado para o Pombal.

A MINHA RUA É UM 'FARWEST' - Baaam!!!

Cena 1, 23H00, (estou sentada, a ler)
BAAAM!
BAM!

(não oiço mais nada, nem gritos, nem vozes, e não me apetece interromper a leitura, não vou à janela ver o que aconteceu)

Cena 2, 23H30, (acabo de ler e vou à janela)
Uma carrinha estacionada em 2ª fila, na via direita da faixa de rodagem, um carro batido na sua traseira e com a traseira toda amolada, outro carro a metro e meio de distância com a frente amoladíssima e os ‘air-bag’ insuflados. Um homem deitado no chão ao lado deste carro. E montes de gente. O homem deitado no chão não parece estar muito mal, conversa com algumas das pessoas que estão à volta.

Cena 3, 23H45, (ando de um lado para o outro, a preparar-me para ir dormir)
Vozearia, gritaria, uma voz que se destaca: “Sim, sim, eu bati, mas...”
(volto à janela)
É a voz do homem que estava deitado no chão e que, agora, anda de um lado para o outro afagando insistentemente o queixo. Continua a gritar repetidamenter, “Sim, sim eu bati mas...”,  não consigo perceber qual é o mas.

Cena 4, meia-noite, (volto à janela para espreitar o acontecimento uma última vez antes de ir dormir)
Chega a polícia. O homem que continua a afagar o queixo nem os deixa sair do carro, dirige-se imediatamente a eles e fala-lhes pela janela: “Eles estavam aqui estacionados na estrada, eu vinha a subir e quando reparei não consegui desviar-me e bati. Assim que saí do carro ele (aponta para outro homem, supostamente o dono do outro carro) veio direito a mim e deu-me um murro (aponta para o queixo) que me atirou ao chão.

Dei por finda a história e fui dormir. Com pena de não ter ido à janela logo que ouvi o BAAAM! e assim ter perdido o momento do murro...

(De manhã os únicos vestígios eram uns cacos de vidro e de plástico na valeta.)

COMO?!?!?! (Lisboa, Av. de Roma)

DE PASSAGEM - Fico assim sem você

Hora de almoço, logo que entro na rua começo a ouvir a voz de Adriana Calcanhoto “Futebol sem bola, Piu-piu sem Frajola, Sou eu assim sem você”. À medida que me vou aproximando “Eu te quero a todo o instante, Nem mil alto-falantes vão poder falar por mim”, percebo que o som em alto volume vem de um automóvel parado diante de um prédio. Já mais perto, “Circo sem palhaço, Namoro sem amasso, Sou eu assim sem você”, reparo que o automóvel tem todas as janelas abertas e que o condutor  anda cá fora, pequenos passos para cá e para lá,  olhando o prédio. Quando estou mesmo a passar por ele, “Eu não existo sem você, A solidão é o meu maior castigo”, sai da porta do prédio uma jovenzinha, 12, 13 anos, com ar enfadado. “Porquê? Porquê? Neném sem chupeta, Romeu sem Julieta”, mal chega ao pé do homem ele pergunta “A tua Mãe?”, ela responde “Está lá em cima, em casa.”. Só depois se cumprimentam, “Carro sem estrada, Queijo sem goiabada, Sou eu assim sem você.”, e entram no automóvel e partem, música já em menor volume, janelas já não tão abertas.
Hum!!!... o “Fico Assim Sem Você” com o volume no máximo não era por acaso...

Fico assim sem você - Adriana Calcanhoto

PODE??? (Call Center)

(Preâmbulo: a Av. D. João II, no Parque das Nações em Lisboa, é paralela ao rio na sua totalidade. A numeração dos edifícios em todo o Parque das Nações é composta por vários algarismos e pontos e deve fazer muito sentido para quem a engendrou mas o comum das pessoas não consegue percebê-lo e, portanto, encontrar uma morada no P.N. não é fácil se não se tiver alguma referência.)

Precisando deslocar-me às instalações das Páginas Amarelas na Av. D. João II no PN, telefonei para lá pedindo para me explicarem onde exactamente  na avenida se localizavam (estou 99% convencida de que fui atendida por um ‘call-center’ das P.A. localizado algures e não por uma telefonista localizada nas instalações para onde eu pensava estar a ligar):

A P.A. – Páginas Amarelas, bom dia, está a falar com a Ofélia, em que posso ser útil?
Eu – Bom dia. Preciso deslocar-me às vossas instalações na Av. D. João II. Já tenho a morada, mas como a numeração do Parque das Nações é um bocado confusa agradecia que me explicasse exactamente em que local da avenida se situam.
A. P.A. – A senhora vai de carro ou de transportes?
Eu – Pode explicar-me a partir  da Gare do Oriente, se eu sair da Gare do Oriente para a Avenida D. João II para que lado ficam?
A P.A. - Para o lado do rio.
Eu (atónita) - Minha senhora a Av. D. João II é paralela ao rio...
A P.A. - Pois é isso mesmo, saindo da Gare do Oriente caminha para o lado do rio.
Eu (a tentar não gitar com a mulher) - Se eu caminhar para o lado do rio na Av. D. João II, saio da Avenida D. João II porque a Avenida é paralela ao rio, diga-me se saindo da Gare do Oriente viro para a esquerda ou para a direita.
A P.A. - Vira na direcção do rio.
Eu (já a gritar com a mulher) - Ir na direcção do rio na Av. D. João II não faz sentido, veja se percebe: A AVENIDA D. JOÃO II É PARALELA AO RIO, se eu sair da Gare do Oriente para a Av. D. João II só posso andar para a esquerda, na direcção da Ponte Vasco da Gama, ou para a direita, na direcção da Torre Galp, do Jardim das Rolas, de Braço de Prata, se andar na direcção do rio vou em frente e saio da Av. D. João II.
A P.A.  - A senhora sai da Gare do Oriente e caminha na direcção do Campus de Justiça.
Eu - Ah! Finalmente faz sentido, e depois ficam à esquerda ou à direita?
A P.A. – Ficam à direita.
Agradeci e desliguei (pensando que agora que respondeu "à direita" é que podia ter respondido “do lado do rio”)

COISAS QUE NÃO ENTENDO - o governo

O governo só pode estar a brincar com o país, ou é composto por uma cambada de incompetentes?!?!? Os dados da execução orçamental relativos a Fevereiro, que agora foram tornados públicos, são a prova. Então os senhores ministros estavam à espera de aumentar as receitas de impostos como IRS, imposto automóvel, imposto sobre o tabaco, porque aumentaram as taxas respectivas?????  Eu, que não sou ministro, nem tenho pretensões a ser, já tinha previsto que as receitas dos impostos iam diminuir apesar do aumento das taxas. Porque é ÓBVIO! Se há cada vez menos pessoas a receberem dinheiro do seu trabalho... lá se vai o IRS, se as pessoas recebem menos dinheiro, e os bens custam mais dinheiro, vão gastar o dinheiro que não têm a comprar automóveis para depois gastarem o dinheiro que não têm em combustível também cada vez mais caro? Vão gastar o dinheiro que não têm a comprar maior quantidade, ou a mesma quantidade que compravam, de tabaco, quando, ainda por cima,  o próprio estado/governo é esquizofrénico e espera arrecadar mais dinheiro com o imposto sobre o tabaco ao mesmo tempo que  dá cabo do juízo por todos os meios aos fumadores para deixarem de fumar???? E a ver vamos os resultados do IVA (a conhecer em Abril) que provavelmente não serão tão desfazados do orçamentado pelo governo como o automóvel e o do tabaco, já que as pessoas têm de continuar a comer, a gastar água, electricidade, etc., mas que também se está mesmo a ver, pela amostra de receitas de impostos agora conhecidas, que as receitas do IVA não vão ficar aquém do valor orçamentado. Ridículo é o mínimo que posso chamar a este orçamento, totalmente desfazado da realidade, os srs. ministros devem tê-lo preparado com base num qualquer país imaginário com pleno emprego e óptimos ordenados.