sábado, 5 de dezembro de 2015

A MINHA RUA É UM FARWEST - Dia de confusões



Pelas 10H30 estava a preparar-me para sair de casa quando ouvi sirenes de bombeiros a pararem aqui perto. Como sempre que isto acontece, não vá ser caso para eu fugir, fui à janela ver o que se passava. O carro dos bombeiros estava parado em frente ao prédio aqui ao lado e dele saltaram meia dúzia de bombeiros aos quais se dirigiu uma senhora muito aflita a dizer “É aquela janela, é aquela janela!”. Ouvi um dos bombeiros responder-lhe “Calma, calma, explique-nos lá o que se passa.” E entraram todos no prédio, senhora e bombeiros. Nesse momento chegou também uma ambulância. Saí da janela (não era caso para eu fugir) e passados alguns minutos saí de casa. Andei uns 100 metros para o lado oposto ao do prédio onde estavam os bombeiros para ir aos contentores da reciclagem e voltei para trás porque o meu destino era para o outro lado. Quando passei ao pé do prédio ainda estavam lá parados em frente o carro dos bombeiros e a ambulância, não havia fumo, nem fogo, nem cheiro a gás, não sei o que se passou, só imagino que alguém, ou velho e xéxé, ou muito criancinha, ou suicidário, se tenha trancado num quarto da casa e recusasse ou não pudesse sair de lá.



Quando regressei pela hora de almoço passei em frente à colectividade que promove a Marcha do Alto do Pina. Havia festa, montes de gente engalanada se dirigia para lá saída de automóveis estacionados por tudo o que era sítio, incluindo as paragens do autocarro. O passeio em frente à porta da colectividade estava vedado com grades e fitas e lá no meio um grande assador com um enorme porco a grelhar no espeto, espalhando cheiro de porco assado por vários metros ao redor. Se eu morasse no perímetro empestado de cheiro a porco assado ia lá pedir para me darem almoço, já que levava com o cheiro da comida era justo ter também direito a comê-la.



Já a meio da tarde comecei a ouvir uma data de vozes, na rua, “Vira tudo para a direita!”, “Vire as rodas, para o outro lado, para o outro lado!”, “Agora venha para trás, pode vir, pode vir, pode vir, alto!”, “Agora para a frente, vire as rodas para a esquerda!”, as vozes sobrepunham-se, uma confusão. Imaginei a cena mesmo antes de ir à janela vê-la mas ainda era melhor do que eu tinha imaginado. Uma condutora, obviamente com muito pouco jeito para manobras, tentava tirar o automóvel do estacionamento com muito pouco espaço porque estava entalado entre outros dois. A manobra não era impossível mas era de facto difícil. E as ordens e contra-ordens que lhe eram dadas, em altos brados e simultaneamente, por: as duas acompanhantes dela, três passantes (dois homens e uma mulher, moradores aqui na vizinhança próxima) e ainda duas velhotas nas janelas de dois andares do prédio em frente ao meu, só confundiam cada vez mais a senhora que andava com o automóvel para trás e para a frente, rodas para a esquerda, rodas para a direita, sem nunca conseguir colocá-lo na única posição em que podia sair. Fiquei na janela (como as velhotas, mas não gritei ordens, fiquei caladinha, só a observar). Finalmente a condutora desistiu, deu umas apitadelas valentes e depois saiu do carro e atacou no plano B, tentar saber de quem eram os outros automóveis para pedir que os afastassem para lhe dar espaço para tirar o dela sem manobras. Poucos minutos depois o dono de um dos automóveis saiu do mesmo prédio onde as velhotas estavam às janelas a mandar “bitaites” para a manobra e recuou o automóvel uns metros dando-lhe espaço de sobra para tirar o dela.