Pelas 10H30 estava a preparar-me para sair de casa quando
ouvi sirenes de bombeiros a pararem aqui perto. Como sempre que isto acontece,
não vá ser caso para eu fugir, fui à janela ver o que se passava. O carro dos
bombeiros estava parado em frente ao prédio aqui ao lado e dele saltaram meia dúzia
de bombeiros aos quais se dirigiu uma senhora muito aflita a dizer “É aquela
janela, é aquela janela!”. Ouvi um dos bombeiros responder-lhe “Calma, calma,
explique-nos lá o que se passa.” E entraram todos no prédio, senhora e
bombeiros. Nesse momento chegou também uma ambulância. Saí da janela (não era
caso para eu fugir) e passados alguns minutos saí de casa. Andei uns 100 metros
para o lado oposto ao do prédio onde estavam os bombeiros para ir aos
contentores da reciclagem e voltei para trás porque o meu destino era para o
outro lado. Quando passei ao pé do prédio ainda estavam lá parados em frente o
carro dos bombeiros e a ambulância, não havia fumo, nem fogo, nem cheiro a gás,
não sei o que se passou, só imagino que alguém, ou velho e xéxé, ou muito
criancinha, ou suicidário, se tenha trancado num quarto da casa e recusasse ou
não pudesse sair de lá.
Quando regressei pela hora de almoço passei em frente à
colectividade que promove a Marcha do Alto do Pina. Havia festa, montes de
gente engalanada se dirigia para lá saída de automóveis estacionados por tudo o que era sítio, incluindo as paragens do autocarro. O passeio em frente à porta da
colectividade estava vedado com grades e fitas e lá no meio um grande assador
com um enorme porco a grelhar no espeto, espalhando cheiro de porco assado por
vários metros ao redor. Se eu morasse no perímetro empestado de cheiro a porco
assado ia lá pedir para me darem almoço, já que levava com o cheiro da comida
era justo ter também direito a comê-la.
Já a meio da tarde comecei a ouvir uma data de vozes, na
rua, “Vira tudo para a direita!”, “Vire as rodas, para o outro lado, para o
outro lado!”, “Agora venha para trás, pode vir, pode vir, pode vir, alto!”, “Agora
para a frente, vire as rodas para a esquerda!”, as vozes sobrepunham-se, uma
confusão. Imaginei a cena mesmo antes de ir à janela vê-la mas ainda era melhor
do que eu tinha imaginado. Uma condutora, obviamente com muito pouco jeito para
manobras, tentava tirar o automóvel do estacionamento com muito pouco espaço
porque estava entalado entre outros dois. A manobra não era impossível mas era
de facto difícil. E as ordens e contra-ordens que lhe eram dadas, em altos
brados e simultaneamente, por: as duas acompanhantes dela, três passantes (dois
homens e uma mulher, moradores aqui na vizinhança próxima) e ainda duas velhotas nas janelas de dois andares do prédio
em frente ao meu, só confundiam cada vez mais a senhora que andava com o automóvel
para trás e para a frente, rodas para a esquerda, rodas para a direita, sem
nunca conseguir colocá-lo na única posição em que podia sair. Fiquei na janela (como
as velhotas, mas não gritei ordens, fiquei caladinha, só a observar). Finalmente
a condutora desistiu, deu umas apitadelas valentes e depois saiu do carro e
atacou no plano B, tentar saber de quem eram os outros automóveis para pedir
que os afastassem para lhe dar espaço para tirar o dela sem manobras. Poucos
minutos depois o dono de um dos automóveis saiu do mesmo prédio onde as
velhotas estavam às janelas a mandar “bitaites” para a manobra e recuou o automóvel
uns metros dando-lhe espaço de sobra para tirar o dela.
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