No prédio onde moro todos os moradores são inquilinos de um único proprietário e só há pouco tempo o senhorio cumpriu a sua obrigação de contratar uma pessoa para cuidar da (estúpida) logística (lisboeta) do contentor do lixo. Até essa altura o contentor de lixo ficava 24 sobre 24 horas na rua, à porta do prédio. Num domingo, dia em que a rua é sempre uma tranquilidade, quase ninguém, quase nenhum carro, eu estava na varanda, “a arejar”, e vi uma sem-abrigo, carregada de tralha, aproximar-se do contentor e começar a enfiar toda a tralha lá dentro. Do meu ponto de vista, (formatado), contentor de lixo é para pôr lixo e pensei “Passou-se! Está a deitar fora todos os seus pertences...”, mas esta minha dedução foi logo negada pela realidade. Assim que enfiou toda a tralha no contentor, seguiu o seu caminho com o contentor rolando atrás dela. Arranjou uma mala de viagem para transportar a tralha. E ainda um belo armário, à prova de água, para manter os bens a salvo. Achei o ponto de vista dela tão lógico, (e fácil de realizar, o que não falta por essa cidade fora são contentores de lixo permanentemente na rua), que nem percebo como o exemplo não é seguido por todos os sem-abrigo da cidade.
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