Três da manhã, sou acordada por um ruído seguido de um F...-se!
dito por uma voz masculina alto e bom som. Imagino que foi mais um estampanço
no cruzamento. Como tenho de me levantar para ir à casa de banho esvaziar a
bexiga ou não vou conseguir readormecer, resolvo ir à janela espreitar o que
aconteceu. No meio do cruzamento está parada uma carrinha da polícia com as luzes azuis ligadas a girar
e pelo menos uns doze polícias estão por
ali. No chão uma mota tombada e um homem deitado. Dois polícias levantam a mota
e levantam o homem e levam ambos para o passeio do outro lado. Um deles diz “Calado!
Nem uma palavra! Nem uma!”. Outros dois, com papeladas na mão, atravessam a rua
para o passeio do lado de cá e falam para alguém que está fora do meu raio de
visão “De quem é a mota?”. A mota caída estava virada para baixo, a carrinha da
polícia virada para cima, e o homem que estava deitado no chão ao pé da mota não
tinha capacete. Não sei se os gajos da mota tiveram o azar de cruzar com a
carrinha da polícia e cairam com o susto, ou se estavam a ser perseguidos pela
carrinha da polícia e cairam ao tentar fazer uma manobra manhosa para inverter
o sentido da marcha e fugir. Também não sei se além da falta de capacete de um
deles havia mais prevaricações, às tantas até a mota era uma prevaricação, isto
é, roubada. E não percebi porque é que um deles não podia dizer nem uma palavra
enquanto que o outro (o condutor?) era interrogado. Desisti de perceber. Fui à
casa de banho e voltei para a cama.