Estava eu muito bem sentada a ler o jornal, sem música nem
TV ligadas aproveitando a tranquilidade dos fins de semana em que há muito
pouco trânsito aqui na rua, quando comecei a ouvir uma barulheira infernal – e, obviamente,
inusitada - de motas. Parecia que, de repente, estavam a circular centenas de
motas aqui na rua. Fui à janela, claro! O que parecia... era mesmo. Centenas de
motas, com os ‘motards’ todos de ‘T-shirt’ branca com uma fotografia de uma cara estampada na frente, a acelerar e fazer ‘raters’
acompanhando um carro funerário. E ainda vários carros, um dos quais com uma
buzina imitando o ruído de uma aceleração e um ‘rater’ de mota. Depois
alinharam as motas todas em frente à entrada do cemitério, parando o trânsito,
e fazendo barulheira com acelerações e ‘raters’. Finalmente percorreram o
cemitério já a pé mas com um de mota lá no meio a fazer barulho e gritando e
batendo palmas, “Quem é que é o maior?”, “Piricó! Piricó! Piricó!”,
clap-clap-clap, VRUMMM! VRUMM! PÁ! PÁ! Estranhamente a iniciar o cortejo ia um
carro funerário com um caixão logo seguido de um grupo de 'motards' apeados e
carregando outro caixão?!?!?! Quando passaram aqui à porta só vi um carro
funerário, o mesmo que vi passar já dentro do cemitério. Será que o 2º caixão
levava a mota do falecido ‘motard’ Piricó?
Desde que moro aqui que já me habituei a funerais ruidosos,
de militares, sempre com paragens de trânsito e salvas de tiros à entrada do
cemitério, e de ciganos, que não param o trânsito nem fazem nenhuma cerimónia à
porta do cemitério mas têm carpideiras
que fazem uma gritaria e uma choradeira
que se ouve em toda a zona. Mas funeral de ‘motard’ nunca tinha
assistido e pelos vistos é o mais ruidoso de todos.