O
autocarro transportava pouca gente. Algumas pessoas iam de pé mas porque
queriam, existiam vários lugares sentados vagos. Reparei num casal muito bem
vestido, o homem de fato apesar do calor que estava, porque os vi correr
desenfreadamente para apanhar o autocarro e porque eram nitidamente índios,
achei que seriam brasileiros ou, pelo menos, sul ou centro americanos. Um pouco
depois deste casal ter entrado no autocarro, na primeira paragem depois da
inicial onde eu o tomara, comecei a ouvir uns “ais”, repetidos e sonoros, que
pareciam de uma mulher a ter um orgasmo. Eu vinha sentada no penúltimo banco
pelo que tinha uma boa visão de todo o autocarro. Achei que os “ais” eram uma
brincadeira parva de alguma das passageiras adolescentes (3 ou 4). Estava observando
todas as passageiras adolescentes para tentar descobrir quem era a emissora dos
“ais” - e ainda só tinha conseguido eliminar a que ia no banco logo à frente do
meu, (apesar de ela ir tão enrolada num namorado que até podia estar mesmo a
ter um orgasmo), porque os “ais”, sem sombra de dúvida, estavam a ser emitidos
mais longe de mim -, quando vejo uma passageira, não adolescente mas sim
trintona, sentada na coxia meio autocarro à minha frente, ter uma espécie de
“espasmo” e quase cair do banco em simultâneo com mais um sonoro “ai”. Nesse momento o
senhor bem-vestido, que ia em pé logo à frente da ‘aiadora’, segurou-a e
colocou-lhe a mão aberta sobre a cabeça. Houve quem pedisse ao motorista para
parar e chamar uma ambulância. O homem parou e veio ver o que se passava. O ‘bem
vestido’, sempre com a mão colocada na cabeça da ‘aiadora’, ajudou-a a mudar-se
da coxia para a janela e a ‘bem vestida’ que o acompanhava sentou-se ao lado.
Não houve mais “ais” nem mais espasmos. O motorista regressou ao seu lugar e o
autocarro retomou a marcha. Na paragem seguinte o ‘bem vestido’ saíu. A ‘bem
vestida’ que o acompanhava ficou no autocarro, mas voltou a pôr-se de pé. Uma
senhora velhota, que ia no banco atrás da ‘aiadora’, e que entretanto tinha
metido conversa com ela, mudou-se para o lugar ao lado dela. Essa velhota e
outros passageiros próximos comentaram que a ‘aiadora’ tinha tido um ataque de
epilepsia. Mal o autocarro arrancou da paragem a dita velhota pôs-se de pé e
pediu para o motorista parar para deixar sair a ‘aiadora’, porque tinha acabado
de descobrir que a dita cuja queria ir para o Largo do Rato (o autocarro de que
falo ia da Alameda para Chelas, ou seja, para um lado totalmente oposto ao
Largo do Rato). E sairam ambas.
Eu
fiquei com a sensação de ter acabado de assistir a uma sessão da IURD... Os ais e o espasmo, não foram um ataque de
epilepsia, (sei o suficiente sobre eplilepsia para ter a certeza disto), a
aposição da mão aberta na cabeça da fulana é um gesto usado pelos pastores da
IURD nos seus “exorcismos” (já vi na TV). A minha dúvida é se a ‘aiadora’ era
meia maluca e aquela cena toda foi só e apenas porque entrou em pânico quando
percebeu que estava no autocarro errado, e a atitude do ‘bem vestido’, mesmo
que seja pastor da IURD, foi apenas uma atitude solidária, e casual, para a
acalmar?!?!?!? ou se toda a cena foi mesmo uma cena, uma encenação da IURD, uma
forma “em espectáculo” (tão ao gosto da IURD) de proselitismo?????
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