Não tenho nada contra Eusébio.
Pelo contrário, apesar de não ser amante de futebol gosto de ver jogos bem
jogados e gosto de ver os passes, os
remates, os golos de jogadores de excepção como era Eusébio. Também gostava do
homem (público já que nunca o conheci de facto) Eusébio, achava-o simpático,
simples, agradável e com sentido de humor. Portanto o que eu não entendo não é
o Eusébio propriamente dito mas a histeria e a “palhaçada” colectiva à volta da
sua morte. Tudo bem que o Benfica, os benfiquistas e o todo povinho que adora
futebol mesmo não sendo benfiquista, e as mais diversas entidades públicas o
quisessem homenagear. Mas não consigo entender a necessidade de andar com o cadáver
em bolandas, do estádio da Luz para a outra ponta da cidade até à Praça do
Município, da Praça do Município outra vez para a Luz (para uma igreja desta
feita), para já não falar do velório com o cadáver à vista a ser beijocado por
milhentas pessoas (uma nojeira, óptima para transmitir vírus e bactérias). Sou
completamente anti cerimónias e ainda mais anti cerimónias fúnebres com um cadáver
como estrela da festa. Na realidade acho mesmo esta exibição de cadáveres uma
tremenda falta de respeito pelo morto, que deveria ser recordado como era em
vida e não como um corpo morto. E também não entendo a necessidade das pessoas
em olhar e beijar o cadáver, em tocar no carro funerário, em entupir o cemitério
quase inviabilizando o enterramento. E ainda entendo menos atendendo a que a
maior parte destas pessoas acredita, contrariamente a mim, em vida depois da
morte, na existência de “alma” e, portanto, acredita que a morte é a “alma” que
abandona o corpo. Assim sendo... não dá mesmo para eu entender a importância
que dão ao corpo morto, sem “alma”, cadáver. E também não entendo o bruá-á-á
que as declarações de Mário Soares sobre Eusébio, que foram apenas verdades
(disse, entre outras coisas elogiosas, que ele era uma pessoa pouco instruída),
causaram. Para o tacanho povinho deste país quem morre vira santo. Não se pode
dizer nada de um morto que não seja elogioso. Mesmo que esse morto tenha sido
um diabo em vida, que não foi o caso, ou tenha sido ignorado em vida, que foi o
caso. Eusébio terminou a sua carreira como futebolista num cafundó-de-judas e,
como na sua época de glória os futebolistas não ganhavam os balúrdios que
ganham actualmente, até passou dificuldades por nem o Benfica nem nenhuma
entidade se preocuparem em o compensar por tudo o que agora o põem nos píncaros,
só o actual presidente do Benfica lhe deu a importância que ele merecia e
cargos remunerados.
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