No bairro onde morei vários anos em Paço de Arcos, em dada
altura comecei a ouvir histórias sobre pessoas atacadas por um cão boxer albino
que os donos deixavam à solta pelo bairro. Ouvi algumas histórias na primeira
pessoa, contadas por vítimas do cão, e muitas outras em segunda mão. Reparei
num denominador comum estranho em todas aquelas histórias. Nenhuma das vítimas
dos ataques do cão tinha sido mordida, as pessoas tinham-se magoado mas por caírem quando
corriam a fugir do cão e ele as alcançava e se atirava a elas. Percebi a
incongruência no dia em que eu própria tive um encontro imediato de terceiro
grau com o dito cão. Não tenho medo de cães
mas, sem dúvida, foi assustador ver aquele cão corpulento a caminhar na minha
direcção e a começar a correr desenfreadamente para mim mal me viu. Mas não tendo medo de cães, não entrei em pânico, consegui raciocinar que ele corria mais rápido do que eu e lembrar-me de que ele ainda não tinha mordido ninguém, e não fugi. Pelo contrário, parei, encarei-o e comecei a falar com ele “Pára! Pára! Pára!”, ele foi abrandando a corrida e quando chegou ao pé de mim parou. Continuei
a falar com ele, ele começou a abanar a cauda, fiz-lhe umas festinhas na cabeça
e depois segui o meu caminho e ele seguiu o dele, nem sequer foi atrás de mim. Resumindo,
o cão feroz era apenas um cão jovem e mal-educado que corria para as pessoas
para brincar, como as pessoas desatavam a correr fugindo dele ele ia atrás e,
claro, acabava por as alcançar e atirava-se a elas deitando-as ao chão. Depois
ia embora tal como fez comigo. Não voltei a encontrá-lo até porque as vítimas
conseguiram fazer queixa dos donos e ele deixou de andar à solta pelo bairro.
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