quinta-feira, 5 de abril de 2012

DE PASSAGEM - Augustos

Uma senhora velhinha está numa janela de um r/c com um ar muito aflito dizendo “Ajudem, ajudem!”.
Paro e pergunto-lhe o que precisa, se quer que eu telefone a pedir uma ambulância. Responde-me  “Não, só quero que chame o Sr. Augusto.”
Digo-lhe que tem de me explicar quem é o Sr. Augusto porque não sei. Com um ar espantado diz  “Não sabe? Mas a senhora não mora aqui?”, respondo que sim, que moro no fundo da rua, mas que não conheço toda a gente do bairro e não conheço o Sr. Augusto.
Ela replica "É muito estranho não conhecer o Sr. Augusto, ele está sempre à janela."
Olho para os prédios em volta e não há ninguém à janela. Digo-lhe isso mesmo e repito que não sei quem é o Sr. Augusto, para poder chamá-lo ela tem de me explicar onde ele mora.
Finalmente ela explica que é na janela logo ao lado da dela, no r/c do prédio ao  lado. A janela está fechada, bato com os dedos no vidro. Não vem ninguém à janela, em vez disso abrem a porta do prédio.
Entro no prédio, a porta do r/c do Sr. Augusto está fechada, toco a campaínha. Uma rapariga de uns 30 anos abre a porta. Digo-lhe que é a senhora do r/c do prédio do lado que está na janela a pedir ajuda e me pediu para chamar o Sr. Augusto. Ela pergunta-me “Quem? A Sra. Augusta?”. ..
Explico-lhe que não conheço a senhora e não sei o nome dela, apenas ia a passar na rua e  falei com ela porque a vi a pedir ajuda na janela, e repito que a senhora está na janela do r/c do prédio do lado e me pediu para eu chamar o Sr. Augusto.
Responde-me “O Sr. Augusto está doente.”
Fico a olhar para ela em silêncio, pensando que estava metida numa história de loucos, que tinha de ir dizer à Sra. Augusta que o Sr. Augusto estava doente e que ela me ia pedir para chamar outro Sr. Augusto e admirar-se por eu não o conhecer e... , quando, perante o meu silêncio, ela acrescenta  “Eu vou lá ver o que ela precisa.” 
E sai comigo e vai falar com a senhora.
Uf! lá consegui sair da história e retomar o meu caminho.

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