domingo, 1 de setembro de 2013

A MINHA RUA É UM FARWEST - Muitos grãos na asa - cena 7

Ontem, cerca das seis da tarde, comecei a ouvir a voz tonitruante da vizinha borrachona. Fui à janela e ela estava a começar a cenaça do costume. Andava de um lado para o outro a trocar as pernas, sentava-se por vezes num dos bancos ou na beira duma das floreiras, que são mobiliário urbano nesta zona da rua, lata de cerveja na mão, bocas dirigidas não sei bem a quem, berros pela mãe. Pensei (temi, na realidade) que aquilo fosse ser em crescendo durante horas e horas. Passado um bocado ouvi um estrondo e um grito. Voltei à janela julgando que ela tinha sido atropelada. Não tinha, apenas se tinha estatelado ao comprido no chão com a bebedeira. Um vizinho do prédio dela que ia a sair com a família ajudou-a a levantar e enfiou-a para dentro do prédio dizendo-lhe para ir para casa. Ela entrou no prédio mas voltou a sair logo a seguir e voltou à conversa fiada e aos passos trocados para cá e para lá com algumas pausas sentada no banco ou na floreira. Mas algum tempo depois fui regar as ervas aromáticas que tenho junto à janela e olhando a rua vi-a a entrar no prédio. Achei que ia continuar a ouvi-la em casa a dar cabo do juízo à mãe, se não fosse a bater na mãe. Mas enganei-me na previsão, não voltei a ouvi-la nem em casa nem na rua. Desconfio que a dose de ontem envolveu algo mais do que cerveja, por muito que troque as pernas e ande aos bordos nunca a tinha visto estatelar-se redonda no chão, e também nunca a tinha visto recolher a casa e ficar calada no auge da bebedeira. Na realidade nem sei se chegou a casa ou se ficou caída nas escadas  a meio caminho do 3º andar onde mora?!?!? Mas fosse lá o que fosse que ela emborcou além da cerveja, acho boa ideia e espero que continue a emborcar, chateia muito menos, uma horita a refilar e a trocar as pernas na rua e depois... "apaga".

Sem comentários:

Enviar um comentário