Na fila para ser atendida numa papelaria a senhora que
estava atrás de mim olhando as capas das revistas no escaparate ao nosso lado
foi dizendo mal de todas as pessoas retratadas nessas capas, do Bruno de
Carvalho porque fez plástica e porque isto e aquilo, da Cristina Ferreira
porque se ri muito e quem ri muito não é de confiança e mais isto e aquilo, da
Ana Rita Clara por ter sido fotografada grávida e em topless, e ainda debitou
uma qualquer teoria da conspiração sobre a morte do filho da Judite de Sousa e
a própria Judite, “paga o justo pelo pecador”, que nem sequer percebi. Toda
esta conversa era dirigida a mim. E embora eu seja excelente a dar conversa a
desconhecidos sou ainda melhor a não dar quando a conversa não me interessa
nada. E foi o que fiz neste caso. Às tantas ela deve ter tomado a minha falta
de réplica por censura e resolveu
justificar-se “Isto não é má língua, é só crítica.”, respondi-lhe “Quero lá
saber, não conheço nenhuma dessas pessoas, por mim está à vontade para dizer o
que lhe apetecer sobre elas.” Estranhamente, (ou, pensando bem, talvez não tão
estranhamente assim), esta minha resposta mudou radicalmente o tema da conversa
e ela começou a contar-me que lhe doía imenso a canela porque no supermercado,
ao desviar-se para dar passagem a uma
zorra com mercadoria para reposição (conduzida por uma funcionária que ela
identificou com nome e cargo como se eu soubesse quem era), tinha batido com a
perna no tubo metálico de retenção dos carrinhos de compras. Não percebi como
porque no supermercado que ela referiu o armazém tem a porta directamente para
a área de compras e o local de arrumação dos ditos carrinhos é completamente
fora da área de compras, as zorras com mercadoria para reposição não
circulam perto do estacionamento dos carrinhos. Mas lá lhe dei então um pouco de
conversa, enquanto era atendida pois tinha chegado entretanto a minha vez. Suponho
que ela queria era conversa, não importava o tema, e deve ter ficado
arrependida de ter gasto tanto tempo a fazer “só críticas” às pessoas nas capas
das revistas em vez de ter logo falado do hematoma na canela.
Sem comentários:
Enviar um comentário