segunda-feira, 20 de junho de 2016

HISTÓRIAS ANTIGAS - Valentões de treta



A empresa onde eu trabalhava estava a falir e tinha imensas dívidas a fornecedores. Uma manhã apareceram à porta da empresa dois matulões muito mal encarados a exigir o pagamento duma dívida a um despachante. Queriam falar com o proprietário e administrador da empresa. A directora financeira foi falar com eles, mentiu dizendo que o administrador não estava lá, e  conseguiu que eles saíssem das instalações. Mas saíram ameaçando que não iam embora dali e que esperavam o que fosse preciso pelo administrador. À hora de almoço saí para almoçar com um grupo de colegas (já tínhamos combinado ir almoçar em dois grupos, cada um de sua vez, e trazer almoço para o administrador para ele não sair) e fomos olhando à procura dos matulões mal encarados. Apesar de estarmos preocupados com a situação, íamos morrendo de riso quando os topámos, qual filme de espionagem de 3ª categoria, sentados dentro de um carro estacionado, com jornais abertos à frente das caras (suponho que tinham uns buracos nos jornais para controlar a porta da empresa). Quando estávamos a almoçar, num restaurante das proximidades, os matulões apareceram lá. Falaram com o empregado e foram embora. Perguntámos ao empregado, que conhecíamos bem pois íamos àquele restaurante quase todos os dias, o que é que os matulões tinham falado com ele. Tinham perguntado se algum dos homens do nosso grupo era o administrador. Ele disse que não e por isso eles saíram. Durante toda a tarde os meus colegas andaram armados em valentões dizendo ao administrador que se os matulões aparecessem faziam e aconteciam. Só eu fui avisando o administrador que se os matulões aparecessem era a primeira a fugir e a fugir bem rapidamente. Depois de fugir chamava a polícia mas não ia arriscar-me a levar porrada. Alguns de nós fomos saindo, dois a dois, por alguns minutos, para tomar café e controlar os matulões que lá continuavam no carro estacionado com os seus jornais a tapar as caras. Mas ao fim da tarde os meus colegas valentões foram todos saindo e eis senão quando só lá ficámos eu e o administrador. Que como habitualmente, mas com um ar completamente “enfiado” me perguntou “Queres boleia para casa?”, eu respondi “Querer não quero, sair daqui contigo hoje é muito perigoso, mas tudo bem, como os meus colegas valentões já se piraram todos...  eu saio à frente a ver se os matulões ainda estão por aí. Se não estiverem fico à tua espera, se estiverem continuo a andar e chamo a polícia para te tirar daqui.”  Ele concordou e assim combinados, eu saí. Observei cuidadosamente todas as redondezas e nem sinal dos matulões. Fiquei portanto à espera como tínhamos combinado e ele saiu também e deu-me boleia para casa. A situação resolveu-se no dia seguinte com uma reunião com o despachante que tinha enviado os matulões.

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