A empresa onde eu trabalhava estava a falir e tinha imensas
dívidas a fornecedores. Uma manhã apareceram à porta da empresa dois matulões
muito mal encarados a exigir o pagamento duma dívida a um despachante. Queriam
falar com o proprietário e administrador da empresa. A directora financeira foi
falar com eles, mentiu dizendo que o administrador não estava lá, e conseguiu que eles saíssem das instalações.
Mas saíram ameaçando que não iam embora dali e que esperavam o que fosse
preciso pelo administrador. À hora de almoço saí para almoçar com um grupo de
colegas (já tínhamos combinado ir almoçar em dois grupos, cada um de sua vez, e
trazer almoço para o administrador para ele não sair) e fomos olhando à procura
dos matulões mal encarados. Apesar de estarmos preocupados com a situação, íamos morrendo de riso quando os topámos, qual filme de espionagem de 3ª
categoria, sentados dentro de um carro estacionado, com jornais abertos à
frente das caras (suponho que tinham uns buracos nos jornais para controlar a
porta da empresa). Quando estávamos a almoçar, num restaurante das proximidades,
os matulões apareceram lá. Falaram com o empregado e foram embora. Perguntámos
ao empregado, que conhecíamos bem pois íamos àquele restaurante quase todos os
dias, o que é que os matulões tinham falado com ele. Tinham perguntado se algum
dos homens do nosso grupo era o administrador. Ele disse que não e por isso eles
saíram. Durante toda a tarde os meus colegas andaram armados em valentões
dizendo ao administrador que se os matulões aparecessem faziam e aconteciam. Só
eu fui avisando o administrador que se os matulões aparecessem era a primeira a
fugir e a fugir bem rapidamente. Depois de fugir chamava a polícia mas não ia
arriscar-me a levar porrada. Alguns de nós fomos saindo, dois a dois, por
alguns minutos, para tomar café e controlar os matulões que lá continuavam no
carro estacionado com os seus jornais a tapar as caras. Mas ao fim da tarde os
meus colegas valentões foram todos saindo e eis senão quando só lá ficámos eu e
o administrador. Que como habitualmente, mas com um ar completamente “enfiado”
me perguntou “Queres boleia para casa?”, eu respondi “Querer não quero, sair
daqui contigo hoje é muito perigoso, mas tudo bem, como os meus colegas
valentões já se piraram todos... eu saio
à frente a ver se os matulões ainda estão por aí. Se não estiverem fico à tua
espera, se estiverem continuo a andar e chamo a polícia para te tirar
daqui.” Ele concordou e assim
combinados, eu saí. Observei cuidadosamente todas as redondezas e nem sinal dos
matulões. Fiquei portanto à espera como tínhamos combinado e ele saiu também e
deu-me boleia para casa. A situação resolveu-se no dia seguinte com uma reunião
com o despachante que tinha enviado os matulões.
Só valentões...
ResponderEliminarA.