Considero-me uma pessoa com zero preconceito. Mas esta noite
tive um sonho, ou melhor dizendo, um pesadelo que, como todos os pesadelos (não
sei porquê), foi bem mais realista do que os sonhos agradáveis, que ao recordar
achei que tinha origem num preconceito. Mas talvez não... pode ter sido só
preocupação com as minhas vizinhas de andar, duas senhoras mais velhas do que
eu 10 a 20 anos, que vivem sózinhas (sózinhas mesmo, cada uma em seu
apartamento) e seguramente meio tãtans coisa que eu (ainda) não sou. Ontem pela hora de almoço alguém tocou várias
campainhas do prédio, a minha incluída. Como sempre em casos que tais, nem me
mexi. Mas uma das senhoras, ou ambas, ou
até mais pessoas no prédio porque a
pessoa que tocou andou para cima e para baixo, abriram. Era um homem a vender
perfumes. Pela conversa (e pelos perfumes seguramente de fancaria) era um
cigano. As senhoras daqui do andar não só lhe abriram a porta do prédio como
lhe abriram as portas dos apartamentos e uma delas até lhe comprou um perfume. O
homem foi a outros apartamentos e passado um bocado saíu. A meio da noite
acordei assustadézima na sequência de um pesadelo. Sonhei que o homem tinha
voltado, àquela hora, à casa da senhora que lhe comprara o perfume e que estava
a ameaçá-la de morte se não lhe desse dinheiro. Ela gritava que não tinha
dinheiro em casa e ele gritava que precisava do dinheiro “já!” porque tinha de
ir embora “amanhã” e precisava do dinheiro para pagar a viagem. Eu pegava no
telemóvel para ligar para a polícia mas cheia de medo que o homem me ouvisse a
falar com a polícia e arrombasse a minha porta. Felizmente acordei neste
momento. O sonho era tão real que só quando realizei que nem sequer tinha o
telemóvel na mão é que percebi que era um pesadelo e não a realidade. Não sei
se houve alguma gritaria que deu início ao pesadelo, é provável, há várias pela
vizinhança embora sejam de curta duração e nunca me tenha apercebido de nenhuma
durante a noite, ou se foi só por ter ficado preocupada por as vizinhas abrirem
a porta a qualquer um.
sexta-feira, 30 de setembro de 2016
sábado, 24 de setembro de 2016
PODE??? - Gente xereta até dizer basta
Aproveitando as portas do prédio e do apartamento abertas e
o facto do apartamento ser no rés-do-chão, a vizinha xereta do prédio ao lado
veio xeretar a mudança com o maior dos descaramentos. E fez-me um interrogatório
e falou do prédio dela e do senhorio dela e fui-lhe dando alguma conversa, sem
nenhuma informação, durante alguns minutos até me fartar e a despachar com um “adeus”
como sou perita em fazer. Alguns dias depois venho a chegar a casa e ela está a
sair do apartamento ao lado. Digo-lhe “boa tarde” e ela responde e aproveita
logo para tentar xeretar, outra vez, para dentro do meu apartamento
aproximando-se até estar mesmo ao meu lado “Então, já está instalada?”. A
partir daí foi um esforço para eu não me rir. Porque, apesar de estar com a
chave na mão, decidi que não ia dar-lhe o gostinho de “meter o nariz” e não ia
abrir a porta até ela se ir embora. Depois de lhe responder que estava quase
instalada virei a conversa do interrogatório sobre a minha vida que ela se
preparava para fazer para a vida dela e ela, como eu esperava, não se fez
rogada, falou das doenças, do marido, do prédio dela, das obras no prédio ao
lado, do meu prédio, da vizinha de casa de quem estava a sair quando eu
entrara, etc. etc. etc. De vez em quando afastava-se na direcção da porta do prédio
para logo voltar para o meu lado quando pensava que eu ia abrir a porta. E
eu... nada, chave na mão sem sequer a dirigir à fechadura. Parecia um bailado,
ela ia e ela voltava, e tornava a ir e tornava a voltar, e ia novamente e
novamente voltava, e eu comecei a também ir uns passos atrás dela quando ela se
afastava a ver se ela percebia que eu não ia abrir a porta enquanto ela ali
estivesse. A coisa estava difícil, a curiosidade da senhora deve ser gigantesca
e ela não queria desistir, e eu controlar a vontade de rir também estava cada
vez menos fácil. Já eu estava a pensar numa solução alternativa, fingir que me
tinha esquecido de fazer algo na rua e sair do prédio com ela na próxima vez
que ela se afastasse como se fosse sair, quando ela finalmente! desistiu e foi
mesmo embora.
terça-feira, 20 de setembro de 2016
HISTÓRIAS ANTIGAS - Colegas estranhos: a I
A primeira vez que a vi nem queria acreditar. Tinha à minha
frente uma versão mais feia da Miss Piggy na pessoa de uma mulher da minha
idade, à época trinta e picos anos. O cabelo pintado de louro-amarelo, a pele
rosada, côr de rosa mesmo, carradas de maquilhagem, umas unhas gigantes
pintadas de rosa berrante, uma roupa indescritível de tão cheia de rendas e
folhos e brilhantes, e uns sapatos igualmente indescritíveis de tão feios, com um salto
agulha de 15 cms. Era a nova secretária de um dos departamentos comerciais da empresa,
recomendada por uma irmã do director desse departamento, que tinha sido colega
dela noutra empresa, como uma profissional excelente. A excelência enquanto
conhecimentos da profissão veio a provar-se mas para ser excelente enquanto
profissional faltava-lhe bom senso, não tinha nenhum. Logo no dia a seguir a
ter iniciado funções resolveu fazer uma “partidinha” a um dos comerciais do
departamento onde trabalhava. Chegando mais cedo do que os comerciais encheu a
secretária desse dito cujo de pimenta. Depois dele ter passado o dia todo a
espirrar acabou por se perceber que o problema estava na mesa de trabalho dele
porque ele deixava de espirrar quando saía de lá e porque outras pessoas
espirravam quando se aproximavam de lá. E uma observação atenta detectou a
pimenta, às carradonas. Então ela assumiu a autoria da “gracinha” embora
ninguém tivesse percebido o porquê. Aparentemente foi uma “praxe” e ter sido
aquele colega e não outro foi uma escolha aleatória. Sorte dela que era um
fulano tranquilo e boa pessoa e embora tivesse ficado atónito não ficou
chateado. Depois de muitas peripécias, que incluíram começar a aparecer de
quando em vez com um ou os dois olhos negros que ela alegava terem sido causados por quedas em que
batera com a cara, na realidade porque tinha um namorado que lhe dava porrada,
decidiu, porque ficou chateada por não lhe darem um aumento que pediu, passar
os dias a jogar “solitaire” e não fazer nenhum excepto o que lhe era solicitado
directamente pelo próprio director do departamento. E assim decorreram uns 3 ou
4 meses. Os prejudicados eram os comerciais do departamento que não quiseram
fazer queixa dela e aguentaram a situação. E fora eles só eu me apercebi do que
se estava a passar mas como não tinha nada a ver com o assunto limitei-me a
aconselhá-la a não ter aquela atitude, conselho que caiu em saco-rôto. Até que
um director de outro departamento comercial, que com frequência passava pelo
posto de trabalho dela porque ambos os departamentos partilhavam o mesmo
'open-space', se apercebeu de que ela passava os dias a jogar “solitaire” e
disse-o ao director do departamento onde ela trabalhava. Os comerciais foram
chamados para confirmar a situação e confirmaram. E a "Miss Piggy" foi despedida. Cerca de um ano e meio depois de ter chegado.
terça-feira, 13 de setembro de 2016
HISTÓRIAS ANTIGAS - Colegas estranhos: o Sr. L
O Sr. L, funcionário dos serviços
administrativos, na época com uns cinquenta e picos anos, era uma pessoa
desagradável e muito irritante. Achava-se o máximo, arvorava-se em chefe dos
colegas, aos quais passava a vida a “picar os miolos” metendo-se onde não era
chamado, e era, de um modo geral, antipático e arrogante para toda a gente.
Além destas características que o tornavam 'persona non grata' para toda a gente
dentro da empresa, ainda era um fulano cheio de manias, parvas como todas as
manias, mas das quais fazia gala pois achando-se o máximo achava também o máximo as
suas manias. Um dia, por uma questão estética, a administração trocou as
cadeiras do bar da empresa, daquelas vulgares cadeiras de café em plástico côr
de laranja, por outras exactamente iguais mas em côr azul forte que ficavam
melhor com os tons cinza, branco e amarelo das paredes, portas, balcões e
mesas. O Sr. L dedicou meia-hora a experimentar todas as cadeiras para
“escolher a mais confortável” para os seus problemas de coluna. E escolhida uma
colou-lhe uma etiqueta na parte de baixo do assento. Ficámos então a saber,
pelos funcionários do bar, que já nas cadeiras côr de laranja ele tinha feito o
mesmo. E decidimos, eu e um grupinho de colegas que detestávamos o homem e
adorávamos fazer brincadeiras e pregar partidas, dar-lhe cabo do juízo com as
etiquetas até ele desistir. Foi uma semana de gáudio. Com a conivência dos
funcionários do bar e das funcionárias da limpeza, para nos contarem as
reacções e actos do Sr. L, e para inspeccionar as cadeiras, e para nos darem
acesso ao bar quando estava encerrado, começámos a campanha “Irritar o Sr. L”.
Primeiro tirámos a etiqueta que ele tinha posto. Ele voltou a experimentar as
cadeiras e a etiquetar uma. Nós voltámos a tirar a etiqueta. Ele voltou a experimentar as cadeiras e a etiquetar
uma delas. Então nós arranjámos etiquetas iguais e etiquetámos metade das
cadeiras do bar exactamente da mesma maneira como ele tinha etiquetado a “sua
cadeira”. Aparentemente ele desistiu. Ou então arranjou alguma maneira de
identificar a “sua cadeira” que nós não conseguimos descobrir, ou nunca
percebeu que a cadeira etiquetada não era uma mas sim metade das cadeiras do
bar.
Subscrever:
Mensagens (Atom)