Aproveitando as portas do prédio e do apartamento abertas e
o facto do apartamento ser no rés-do-chão, a vizinha xereta do prédio ao lado
veio xeretar a mudança com o maior dos descaramentos. E fez-me um interrogatório
e falou do prédio dela e do senhorio dela e fui-lhe dando alguma conversa, sem
nenhuma informação, durante alguns minutos até me fartar e a despachar com um “adeus”
como sou perita em fazer. Alguns dias depois venho a chegar a casa e ela está a
sair do apartamento ao lado. Digo-lhe “boa tarde” e ela responde e aproveita
logo para tentar xeretar, outra vez, para dentro do meu apartamento
aproximando-se até estar mesmo ao meu lado “Então, já está instalada?”. A
partir daí foi um esforço para eu não me rir. Porque, apesar de estar com a
chave na mão, decidi que não ia dar-lhe o gostinho de “meter o nariz” e não ia
abrir a porta até ela se ir embora. Depois de lhe responder que estava quase
instalada virei a conversa do interrogatório sobre a minha vida que ela se
preparava para fazer para a vida dela e ela, como eu esperava, não se fez
rogada, falou das doenças, do marido, do prédio dela, das obras no prédio ao
lado, do meu prédio, da vizinha de casa de quem estava a sair quando eu
entrara, etc. etc. etc. De vez em quando afastava-se na direcção da porta do prédio
para logo voltar para o meu lado quando pensava que eu ia abrir a porta. E
eu... nada, chave na mão sem sequer a dirigir à fechadura. Parecia um bailado,
ela ia e ela voltava, e tornava a ir e tornava a voltar, e ia novamente e
novamente voltava, e eu comecei a também ir uns passos atrás dela quando ela se
afastava a ver se ela percebia que eu não ia abrir a porta enquanto ela ali
estivesse. A coisa estava difícil, a curiosidade da senhora deve ser gigantesca
e ela não queria desistir, e eu controlar a vontade de rir também estava cada
vez menos fácil. Já eu estava a pensar numa solução alternativa, fingir que me
tinha esquecido de fazer algo na rua e sair do prédio com ela na próxima vez
que ela se afastasse como se fosse sair, quando ela finalmente! desistiu e foi
mesmo embora.
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