terça-feira, 20 de setembro de 2016

HISTÓRIAS ANTIGAS - Colegas estranhos: a I



A primeira vez que a vi nem queria acreditar. Tinha à minha frente uma versão mais feia da Miss Piggy na pessoa de uma mulher da minha idade, à época trinta e picos anos. O cabelo pintado de louro-amarelo, a pele rosada, côr de rosa mesmo, carradas de maquilhagem, umas unhas gigantes pintadas de rosa berrante, uma roupa indescritível de tão cheia de rendas e folhos e brilhantes, e uns sapatos igualmente indescritíveis de tão feios, com um salto agulha de 15 cms. Era a nova secretária de um dos departamentos comerciais da empresa, recomendada por uma irmã do director desse departamento, que tinha sido colega dela noutra empresa, como uma profissional excelente. A excelência enquanto conhecimentos da profissão veio a provar-se mas para ser excelente enquanto profissional faltava-lhe bom senso, não tinha nenhum. Logo no dia a seguir a ter iniciado funções resolveu fazer uma “partidinha” a um dos comerciais do departamento onde trabalhava. Chegando mais cedo do que os comerciais encheu a secretária desse dito cujo de pimenta. Depois dele ter passado o dia todo a espirrar acabou por se perceber que o problema estava na mesa de trabalho dele porque ele deixava de espirrar quando saía de lá e porque outras pessoas espirravam quando se aproximavam de lá. E uma observação atenta detectou a pimenta, às carradonas. Então ela assumiu a autoria da “gracinha” embora ninguém tivesse percebido o porquê. Aparentemente foi uma “praxe” e ter sido aquele colega e não outro foi uma escolha aleatória. Sorte dela que era um fulano tranquilo e boa pessoa e embora tivesse ficado atónito não ficou chateado. Depois de muitas peripécias, que incluíram começar a aparecer de quando em vez com um ou os dois olhos negros que ela alegava terem sido causados por quedas em que batera com a cara, na realidade porque tinha um namorado que lhe dava porrada, decidiu, porque ficou chateada por não lhe darem um aumento que pediu, passar os dias a jogar “solitaire” e não fazer nenhum excepto o que lhe era solicitado directamente pelo próprio director do departamento. E assim decorreram uns 3 ou 4 meses. Os prejudicados eram os comerciais do departamento que não quiseram fazer queixa dela e aguentaram a situação. E fora eles só eu me apercebi do que se estava a passar mas como não tinha nada a ver com o assunto limitei-me a aconselhá-la a não ter aquela atitude, conselho que caiu em saco-rôto. Até que um director de outro departamento comercial, que com frequência passava pelo posto de trabalho dela porque ambos os departamentos partilhavam o mesmo 'open-space', se apercebeu de que ela passava os dias a jogar “solitaire” e disse-o ao director do departamento onde ela trabalhava. Os comerciais foram chamados para confirmar a situação e confirmaram. E a "Miss Piggy" foi despedida. Cerca de um ano e meio depois de ter chegado.

Sem comentários:

Enviar um comentário