Eu estava numa paragem de autocarro. Não estava lá ninguém
quando cheguei e sentei-me numa das pontas do banco. Passado pouco tempo chegou
uma rapariga que se sentou na outra ponta do banco. Entre nós as duas ficou
espaço de banco bastante para se sentar à vontade mais uma pessoa, por muito
gorda e espaçosa que fosse, ou duas se cada uma de nós se chegasse mais um
pouquinho para as pontas do banco. Às tantas aparece um senhor, dos seus 70’s
anos, grande e gordo, e, com a maior das latas, coloca-se do lado da ponta do
banco onde eu estava sentada e diz-me “Não se importa de se chegar para lá?”.
Presumo que este tipo de abordagem, que considero de uma latosa inacreditável,
funcione com 99% das pessoas, ou não seria tão frequentemente usada pelos
velhotes que circulam por aí. Mas eu faço parte do 1% que não se deixa
intimidar, que não tem nenhum problema em dizer NÃO! E foi o que aconteceu,
cheguei-me mais um pouco para a ponta do banco e respondi “Importo-me sim. Não
vou chegar-me para lá e ficar sentada no meio do banco. O senhor tem espaço de
sobra para se sentar aqui” e apontei para o espação de banco entre mim e a
rapariga que estava na outra ponta do banco. Ele balbuciou, à laia de
justificação para querer sentar-se na ponta do banco, que queria fumar, (como
se o fumo incomodasse mais ou menos os circundantes por provir da ponta do
banco ou do meio do banco), e mais audívelmente disse “Deixe lá...” (quase me
ri, pois eu já tinha, claramente “deixado lá”) e foi sentar-se num murito atrás
da paragem. Que era por onde devia ter começado se queria fumar. Mas esta cena
do “Não se importa de se chegar para lá?!?” está sempre a acontecer-me dentro
dos autocarros. Não gosto de viajar sentada entre um desconhecido e a janela e
por isso sempre que há lugares de coxia vagos é um deles que ocupo,
independentemente de o lugar de janela correspondente estar ou não ocupado. E
quando o lugar do lado da janela está vago são inúmeras as vezes em que os
passageiros que se querem sentar em vez de dizerem “Dá-me licença?” para
passarem para o lugar vago (que é o que eu faço, apesar de não gostar de me
sentar à janela, se, mesmo assim, me quero sentar num lugar de janela vago que
tem um passageiro no lugar de coxia correspondente), dizem “Não se importa de
se chegar para lá?”. Escusado será dizer
que eu importo-me sempre e nunca me “chego para lá”, apenas me levanto para dar
passagem para o lugar de janela. E já houve até ocasiões em que a pessoa
desiste de se sentar, o que eu acho que faz muito bem, o que faz mal é ter a
grande lata de pedir para “chegar para lá”.
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