terça-feira, 29 de abril de 2014

HISTÓRIAS ANTIGAS - Quando a verdade parece mentira



Eu estava pronta para sair para o trabalho quando decidi trocar as calças que tinha vestidas por outras. Com a pressa de fazer a troca desapertei e baixei as calças e sentei-me na cama puxando-as para as despir sem descalçar os botins que tinha calçados. Estava tudo a correr bem quando as calças, já meio despidas, encravaram nos botins e ficaram encravadas, completamente encravadas. Não conseguia acabar de as despir e também não conseguia voltar a vesti-las para descalçar os botins e voltar a despi-las. Puxei para baixo, puxei para cima, puxei para baixo, puxei para cima e nada. As calças não se moviam um milímetro nem para um lado nem para outro. Depois de longos minutos a suar as estopinhas em esforços vãos para fazer as calças deslizarem ou para um lado ou para outro, concluí que tinha de arranjar outra solução. A mais óbvia era ir buscar uma tesoura e cortar as calças. Mas não era fácil, tinha de me deslocar para ir buscar a tesoura, o que com os pés encravados dentro de umas calças, meia perna vestida, meia perna despida, era uma tarefa difícil  e também não me apetecia nada fazer em farrapos umas óptimas calças. Já exasperada, lembrei-me de uma outra solução para conseguir despir o raio das calças, forçar a mão por dentro das pernas das calças para abrir o fecho dos botins e puxar depois as calças juntamente com os botins, despindo as calças e descalçando os botins em simultâneo. Com mais algum esforço e bastante força para conseguir enfiar a mão entre a perna das calças e o botim lá consegui abrir um fecho e depois o outro. E finalmente consegui despir as calças descalçando os botins ao mesmo tempo. Vesti as outras calças, voltei a calçar os botins, fui refrescar-me do esforço e saí para ir para o trabalho. Mas com toda esta cena estava irremediavelmente atrasada. Cheguei ao trabalho 40 minutos depois da hora a que devia ter chegado. Fui pedir desculpa do atraso e justificá-lo. E disse a verdade. Mas as caras de dúvida que recebi em troca fizeram-me perceber que a minha história parecia uma mentira parva inventada para não dizer a verdadeira razão do meu atraso. E que mais valia eu ter mesmo inventado uma mentira qualquer menos parva do que a história verdadeira do que me acontecera, tão parva e tão ridícula que parecia uma mentira esfarrapada.

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