Eu
estava pronta para sair para o trabalho quando decidi trocar as calças que
tinha vestidas por outras. Com a pressa de fazer a troca desapertei e baixei as
calças e sentei-me na cama puxando-as para as despir sem descalçar os botins
que tinha calçados. Estava tudo a correr bem quando as calças, já meio
despidas, encravaram nos botins e ficaram encravadas, completamente encravadas.
Não conseguia acabar de as despir e também não conseguia voltar a vesti-las
para descalçar os botins e voltar a despi-las. Puxei para baixo, puxei para
cima, puxei para baixo, puxei para cima e nada. As calças não se moviam um
milímetro nem para um lado nem para outro. Depois de longos minutos a suar as
estopinhas em esforços vãos para fazer as calças deslizarem ou para um lado ou
para outro, concluí que tinha de arranjar outra solução. A mais óbvia era ir
buscar uma tesoura e cortar as calças. Mas não era fácil, tinha de me deslocar
para ir buscar a tesoura, o que com os pés encravados dentro de umas calças,
meia perna vestida, meia perna despida, era uma tarefa difícil e também não me apetecia nada fazer em
farrapos umas óptimas calças. Já exasperada, lembrei-me de uma outra solução para conseguir despir o raio das calças, forçar a mão por dentro das pernas das
calças para abrir o fecho dos botins e puxar depois as calças juntamente com os
botins, despindo as calças e descalçando os botins em simultâneo. Com mais
algum esforço e bastante força para conseguir enfiar a mão entre a perna das calças e o
botim lá consegui abrir um fecho e depois o outro. E finalmente consegui despir
as calças descalçando os botins ao mesmo tempo. Vesti as outras calças, voltei
a calçar os botins, fui refrescar-me do esforço e saí para ir para o trabalho.
Mas com toda esta cena estava irremediavelmente atrasada. Cheguei ao trabalho
40 minutos depois da hora a que devia ter chegado. Fui pedir desculpa do atraso
e justificá-lo. E disse a verdade. Mas as caras de dúvida que recebi em troca
fizeram-me perceber que a minha história parecia uma mentira parva inventada
para não dizer a verdadeira razão do meu atraso. E que mais valia eu ter mesmo
inventado uma mentira qualquer menos parva do que a história verdadeira do que
me acontecera, tão parva e tão ridícula que parecia uma mentira esfarrapada.
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