domingo, 2 de junho de 2013

DE PASSAGEM – Pela Baixa numa tarde de domingo



Andei uma hora e meia a deambular pela Baixa A fazer horas para ir a um espectáculo. Comecei por  ir à Ermida da Senhora da Saúde a ver se descobria finalmente a identidade da Santa desconhecida da procissão. Nada feito, a Ermida estava fechada e nem sequer tem um horário na porta, conseguir entrar lá é um “totoloto”, tem de se ir tentando até ter a sorte de a encontrar aberta.  Como estava um calorão, e as igrejas são fresquinhas e bonitas e interessantes e há muitas na Baixa, resolvi fazer um périplo “igregistico” para me entreter e também pensando que talvez encontrasse a santa desconhecida numa delas (não a que “mora” na Ermida da Senhora da Saúde, obviamente, mas outra imagem da mesma santa). A segunda igreja que tentei – a estranha (porque não é uma igreja como as outras, é apenas o piso térreo de um prédio pombalino como todos os outros da Baixa) Igreja de Nossa Senhora da Oliveira de onde sai a procissão de Santa Rita de Cássia – também estava fechada. Mas essa tinha o horário na porta pelo que tentarei voltar lá um dia destes. Tentei então a Igreja de São Nicolau onde tinha entrado fugazmente no dia da Procissão de Santa Rita e essa estava aberta. Deu para a visitar com calma e ver atentamente todos os santos e santas. Tem uma santa “duplicada” com a Ermida da Senhora da Saúde mas não é a desconhecida, é a Santa Bárbara, uma imagem muito maior e mais recente do que a da Ermida da Senhora da Saúde e que, não sei porquê, estava numa peanha logo na entrada da igreja em vez de no seu altar que estava vazio. Fui depois à Igreja de São Domingos que é muito interessante por várias razões: foi construída no século XIII e ao longo dos tempos sofreu várias inundações, terramotos e incêndios o último dos quais, que destruiu toda a cobertura e todo o interior que não era de pedra, já no século XX; a actual reconstrução é dos anos 90 do século XX e mantém aparente a destruição desse último incêndio; tem uma porta para o Largo de São Domingos  (a que dá entrada na Igreja) e outra com um pátio gradeado para a Rua D.Duarte (que dá para a sacristia) e, ao que li, tem outras duas laterais hoje em dia no meio de prédios e não usáveis e nas quais nunca reparei; foi a Igreja da Inquisição mas também de casamentos e baptizados reais; e tem uma data de nomes, Convento de São Domingos de Lisboa, Igreja de São Domingos, Igreja Paroquial de Santa Justa, e Igreja de Santas Justa e Rufina.  Também tem alguns santos, nomeadamente Justa e Rufina, mas a maior parte das imagens é de Nossas Senhoras e Jesus Cristos variados e nada de santa desconhecida. Entre estas duas igrejas que visitei notei um pormenor de diferença, uma delas confia nos fieis e nos visitantes, as velas estão em estantes e têm ao lado uma caixa de esmolas onde é suposto as pessoas depositarem 50 cêntimos por cada vela que tiram. A outra desconfia da honestidade dos fieis e visitantes e tem as velas bem trancadas em dispensadores de velas de onde as ditas só saem com a introdução de 50 cêntimos e também tem as velas em venda numa lojinha no interior da igreja. Na Igreja de São Domingos vi entrar um fulano gordinho e seboso, aí dos seus 60 anos, daqueles que usam um cabelo comprido por cima da cabeça a tapar a careca, que quando entrou se dirigiu pressurosamente à pia da água benta onde molhou a mão. Mas em vez de se benzer usou a água para pôr no seu sítio de tapa-careca o cabelo desalinhado pelo vento. Nas ruas dos Fanqueiros, da Prata, dos Douradores, de São Julião e da Conceição e na Praça da Figueira a poluição sonora era de loucos. Colunas de som colocadas nas paredes dos prédios debitavam música clássica em volume considerável. Em cima disto  o fado, a música africana e sei lá mais o quê, proveniente de lojas, casas, cafés e barraquinhas. Um horror! Não percebi qual a ideia daquelas colunas de som mas suponho que seja obra das paróquias da zona pois as igrejas de São Nicolau e da Madalena tinham as fachadas engalanadas em comemoração de um qualquer jubileu. Se eu morasse por ali chamava a polícia, queixava-me à Câmara, acho que até pegava num escadote e numa tesoura e cortava os fios para calar aquelas colunas, aquilo é uma verdadeira tortura sonora. Depois de sair da Igreja de São Domingos fiquei alguns minutos a ouvir uma pequena tuna universitária feminina que tocava e cantava no início da Rua das Portas de Santo Antão. Ligeiramente à minha frente estava, também a ouvir e ver a tuna, um fulano grandalhão de roupinha afiambrada (quero dizer, demonstradora de muito dinheiro e pouco bom gosto). De repente, aparece uma fulana, baixinha e redonda e vestida de igual modo que se dirige a ele e diz:  “E se em vez de estares aí a ouvir essas putas viesses ajudar-me a escolher (.... – não percebi o quê) aqui na loja.?!?!?” E zarpou para dentro da loja nas minhas costas. Ele ignorou-a completamente, nem replicou, e ficou impávido e sereno no mesmo sítio.

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