Hoje estava eu no McDonald’s da Av. da República (passe a publicidade que eles
nem precisam) e senta-se numa mesa à minha frente uma fulana, 40 e tais anos, não
muito gorda mas daqueles gordinhos que (a mim) metem impressão porque são todos
gordos, ou seja, até os pés e as mãos têm banha, carne a mais. Sandálias de
salto alto com uma tira a vincar, bem enterrada, a carne gorda dos pés, (não sei como aguentam, eu nem conseguiria caminhar com um sapato a torturar-me os pés daquela maneira), e a mostrar umas
unhas pintadas e uns calcanhares maltratados, vestidinho piroso metido a fino,
cabelo pintado de louro platinado e esticado, até aos ombros. Mal se sentou
pegou no telemóvel e ligou para uma amiga a quem tratou todo o tempo por “amiga”
e por você. E eu fiquei a saber: que ela dá aulas, que mora na zona de Odivelas,
que é casada, que o marido vendeu um automóvel há dois anos, que recebeu uma
coima das finanças por causa da não liquidação do imposto de selo desse automóvel, que hoje foi para as finanças de
manhã para resolver esse assunto e que ainda lá estava naquele momento (3 da
tarde) porque as finanças estavam cheias de gente com o mesmo problema, que uma
outra amiga tinha ido passar o passado fim de semana a Óbidos onde ela própria
passou um fim de semana há pouco tempo, que precisava mandar pôr umas capas nas
sandálias que trazia calçadas e ia ao sapateiro que costuma usar, ali algures no
Saldanha, quando acabasse de comer, que a amiga com quem estava a falar anda a
ser (ou elas acham que anda a ser) encornada pelo marido e teme que ele se balde a ir com ela um
casamento para que estão convidados no próximo fim de semana e ela aconselha-a
a não dizer ao marido a que horas é o casamento para ele não ter oportunidade de
inventar outro compromisso para a mesma hora. Eu não fiz esforço nenhum para ouvir tudo
isto, pelo contrário, teria era de fazer esforço para não ouvir. E não ouvi
mais porque entretanto acabei de comer e fui à minha vida. Há (muitas) pessoas
não se enxergam, não têm a menor noção de privacidade, falam ao telefone em público
como se estivessem em casa.
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